quinta-feira, 22 de abril de 2010

Chico Xavier, Além da Personificação (De Luciana Kellen)

"Uma crítica ao filme CHICO XAVIER"

No ultimo dia 14.04, quarta-feira promocional do Moviecom, assisti o filme "Chico Xavier" depois de muitos dias de tentativas sem sucesso! Criei muita expectativa sobre o filme de nosso Amigo “X”(carinhosamente chamado por alguns jovens espíritas, e naturalmente adotado por mim) e sabemos que não é bom sentir isso em excesso, pois os riscos de decepção é quase certa (que o diga “Fim dos Tempos e “Guerra dos Mundos”, por exemplo). Adianto que não foi o caso.


Desde o primeiro segundo em que soube que iriam produzir um filme sobre a vida de Chico Xavier esbocei preocupação, e o motivo maior era a possível exploração do lado sensacionalista em que manifestações mediúnicas podem ser tratadas. Tempo depois foram divulgados os responsáveis pela adaptação, o que despertou certa alegria interior, na verdade uma despreocupação quanto o possível foco de abordagem da narrativa.


A primeira cena do filme é a ação de um gesto corriqueiro do médium. A partir de uma perspectiva diferenciada, gotas do colírio caem nos olhos do Amigo “X”antes de entrar no programa "Pinga Fogo" onde foi sabatidado por aproximadamente tr~es horas sobre seu don, a relação com Deus e as acusações de fraude que sofria. Essa abertura, muito mais rica e poética do que minha limitada escrita, é um prelúdio de muitos momentos felizes que o filme proporciona para nós!


Com roteiro assinado pelo Marcos Bernstein (Central do Brasil), baseado no livro “As Vidas de Chico Xavier” do jornalista Marcel Souto Maior com produção e direção de Daniel Filho (Dois filhos de Francisco e Se eu fosse você 1 e 2), o filme tem inicio com uma espécie de “pedido de compreensão” da produção, explicando que a complexidade do personagem e de suas histórias é tão grande que seria impossível abraçar todos os detalhes de sua trajetória.


Desconfianças pessoais a parte com essa iniciativa, o filme foi tratado sem partidarismo. Ou melhor, o único time que manda em todo roteiro é a prática da caridade. Ela é a protagonista principal personificada em Chico Xavier e reforçada pela popularidade e função social do médium na promoção do bem, e não da religião.


É uma história comovente com alfinetadas morais em inúmeras situações, sempre a partir das ações do personagem título, e não somente pelo discurso. Essa característica ganha seu auge nas provações que o personagem precisa passar para se apropriar de sua mediunidade, no novo sentido e significação da dor, sofrimento, resignação e doação que o Amigo “X” se propõe vivenciar a partir de sua escolha, e não de uma imposição.


A fase da infância contém as cenas mais belas e bem construídas não só pela fotografia de ambientes internos e externos, mas principalmente pela maneira em que são retratadas as dificuldades que uma criança enfrenta ao dizer pras pessoas que ouve, vê e conversa com espíritos.


Em diálogos, não ha nada mais divertido do que as conversas de Chico com Emmanuel, seu mentor espititual a quem atribuia as orientações espirituais. Não gostei muito do ator que o interpreta, mas a quimica dos dois rende cenas hilárias.






Técnica e elenco






Em um filme que fala sobre espiritos, manifestações ocultas e misterios de varias naturezas é mais que esperado algum efeito especial, não é? O filme usa o recurso de forma pontual e de forma dosada. A cena em que observamos mais o recurso é no inicio da primeira psicografia feita por ele, onde recebe a primeira mensagem de sua mãe morta durante a infãncia dele. Uma cena forte com uma "jogada" de camera inteligente!


A edição é muito feliz na grande maioria dos momentos tendo mérito honroso já que uma narrativa mista, como é a do filme com constantes “flash back”, deve ser trabalhado com muita cautela. A produção do figurino e da maquiagem é precisa e somam no conjunto construtivo das cenas, desde a caracterização dos atores até objetos de apoio dos atores.


As inevitáveis ressalvas do filme começam com o elenco. Eu não consigo desvencilhar a Cristiane Torloni (Gloria) ou o Tony Ramos (Orlando) das novelas globais, e mesmo com a expressiva dedicação e esforço deles fica difícil “engolir” algumas cenas. Muito mais pela Torloni que não acerta no tom dramático de sua personagem Glória, mãe de um rapaz morto acidentalmente pelo amigo e por isso rancorosa, amargurada e endurecida.


Mas Giovanna Antoneli, em um momento primoroso de interpretação, conseguiu me emocionar com sua personagem Cidália, simples e acolhedora. Além dos interpretes de Chico Nelson Xavier (1969/1975), Ângelo Antonio (1931/1959) e Matheus Costa (1918/1922) serem aquilo que nós esperamos que um ator seja ao assumir um personagem tão emblemático como esse.


Um destaque maior para a personagem de Giullia Gan, Rita, a madrinha malvada de Chico que praticava todas as violações de direito do E.C.A. durante a infância de Xavier. Ela está assustadoramente perfeita na curta, mas densa aparição no filme.






Por que assistir ao filme de Chico Xavier?






Para os emocionais:


Em um mundo onde muitas pessoas tem necessidades de exemplos e representações para respaldar suas escolhas, o filme mostra sem pieguices ou charlatonismos a importância social do maior exemplo contemporâneo de nosso país da pratica da tolerância, do amor ao próximo, da resignação e doação aos seus propósitos. Ele mostra a importância do admitir-se errado e a necessidade do recomeço.






Para os mais “críticos”:


Esse filme é tecnica e esteticamente uma satisfação cinematográfica. Excelentes atuações e recortes em 95% das cenas. A narrativa passa longe de dramalhões e apelações que tanto nos incomodam no cinema nacional. O filme é Cult e popular. Poucos conseguem conquistar tanto.


É conhecer para saber falar, mesmo que seja mal.


Fonte: http://www.lucianakellen.blogspot.com/

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