segunda-feira, 5 de julho de 2010

MÃE NATUREZA

Não há como manter-se indiferente diante desta imensa tragédia coletiva, com nossos irmãos do outro lado do mundo. Difícil evitar o pensamento: Por quê? São tantos ainda os mistérios da natureza que o homem se vê perplexo, impotente e subjugado diante dos acontecimentos. Muitas mães se indagam, "porque Senhor tirar-me o filho na tenra infância, se ainda nada fez de mal para si ou para o mundo...?".
Não há como negar que a pergunta se faz justa e mereça uma resposta. Mas quem dará tão importante resposta? Muitos até acreditam que Deus está indiferente a tudo isto, como se nada pudesse fazer. E não pode. A Natureza é uma lei imutável, portanto não pode ser derrogada, alterada, adulterada ou maculada. Como então aceitar tão grande e inimaginável acontecimento?
Muitos dirão que é a culpa do homem por estar poluindo o ar, destruindo as matas, matando os animais, devastando o planeta, que tão amorosamente nos abriga. Apesar de tudo isso ser verdade, que o homem devasta o planeta, se acreditássemos em tal verdade, teríamos que admitir um Deus vingativo, colérico e não perfeito, uma heresia naturalmente, da parte daqueles que assim pensasse. Um Deus que, vigiando os atos do homem, em algum momento resolvesse "dar o troco". Estaria o homem, se assim fosse, "ardendo nas profundezas do mais imenso inferno".
Mas como tudo isso é pura fantasia de mentes fanáticas e mal instruídas, temos que nos reportar a outros princípios para tentar entender tais acontecimentos. Como poderia o homem, na sua imensa maioria ignorante das leis da natureza, crer que uma fenda no fundo do mar provocasse um "apocalipse das águas" destruindo e ceifando vidas... Nem sequer pode compreender como o fundo do mar pode deslocar placas tectônicas, se pensa que tudo "é tão sólido" e tão bem criado por Deus. "Eu vejo o azul dos céus, e o branco das nuvens. O brilho do dia abençoado... a sagrada noite escura... E eu penso comigo... que mundo maravilhoso"... As estrofes que você acaba de ler, é uma das que se encontram na maravilhosa música de Louis Armstrong, "Que Mundo Maravilhoso", a qual exalta o homem e a natureza das coisas... Como seria maravilhoso se o mundo fosse sempre belo, sem dor, sem misérias, sem fome, sem guerras, sem preconceitos. Como não seria maravilhoso este mundo, tão perfeito, que todos sonhamos? Como então aceitar e compreender tão grande tragédia? Epicuro, pensador da antiguidade, apresentou o seguinte dilema em sua época: "se Deus é bom e onipotente, não poderia haver mal sobre a Terra; havendo, ou Deus não quer acabar com o mal – e não é benevolente -, ou não pode fazê-lo – e não é onipotente".
Reflita bem, caro leitor, no tamanho do dilema apresentado! Mas com um pouco de reflexão e análise logo percebemos que Epicuro advoga a idéia de que Deus deve livrar todos os males do homem, até mesmo o mais comezinho deles. Assim seria muito bom vivermos e o mundo seria, de fato, maravilhoso, como na música de Louis Armstrong. Por outro lado, se há o mal, como ele diz e Deus não quer acabar com ele, não é, portanto benevolente, havendo aqui uma imensa contradição, pois este é um dos atributos do Criador: a benevolência para com seus filhos. Atribui ao Criador a incapacidade de agir em favor do homem; ora, outro atributo da divindade é exatamente a Onipotência. Epicuro, assim como a imensa parte da humanidade tiram de si as responsabilidades pelos seus próprios atos, para atribuí-las a outrem, de preferência alguém com poderes, como o Criador, para livrá-lo de todo o mal e salvá-lo das misérias humanas.
Muitas crenças e igrejas são fundamentadas sobre tais princípios, levando o homem a crer em uma salvação fora de si e não um projeto pessoal, de esforço e melhoria de si mesmo. Mas seria um castigo de Deus, imputando ao homem o sofrimento e a desolação, por ele estar usufruindo da natureza, criada pelo próprio Deus? Rousseau, outro pensador da antiguidade já afirmava: "não foi o Criador que reuniu 20 mil casas de seis ou sete andares numa área relativamente exígua". Quer dizer ele que, desconhece o homem a ação e o progresso da natureza, por isso "se torna vítima" do seu uso e exploração.
Falta-nos, portanto, o entendimento e consequentemente o ajustamento para vivermos melhor com as leis da natureza. Há também um outro filósofo, Shakespeare, que afirmava: "Entre o Céu e a Terra há mais mistérios do que a vossa vã filosofia possa imaginar". Sábias palavras, querido leitor, sábias palavras. Porém, com o advento de uma nova filosofia, que foi apresentada ao mundo, no ano de 1857, pelo cientista e pensador Hippolyte-Leon-Denizar Rivail (Allan Kardec) já pode a humanidade desfrutar de luzes de esclarecimentos para os grandes dilemas, mistérios e flagelos humanos e compreender as palavras do filosofo acima citado. "Estamos longe de conhecer todos os agentes ocultos da Natureza e mesmo todas as propriedades dos que já conhecemos; a eletricidade, aliás, multiplica diariamente ao infinito os recursos que oferece ao homem e parece dever iluminar a Ciência com uma nova luz", afirma Allan Kardec em sua análise introdutória de O Livro dos Espíritos.
Muitos duvidam de um Deus benevolente e onipotente, se crendo "solto" no Universo, questionando se a criação do mundo foi a melhor obra Dele, alegando que a Mãe Natureza é bruta, amoral e indiferente. Grande bobagem e revela uma falta de compreensão e entendimento dos princípios da criação. Gente sem fé, sem discernimento da grandiosidade da criação e da vida.
Estamos apresentando neste singelo artigo as justificativas, sob o ponto de vista espírita, que advoga que a justiça das provas, no caso desta tragédia coletiva, resulta de quitação de dívidas do passado daquele povo. Muitos dirão, mas afeta os culpados e também inocentes. "Mas sabe-se que o inocente de hoje é o culpado de ontem, quando lançou a discórdia, as revoluções, os crime de lesa-sociedade, oprimindo o fraco, etc.". "São essas faltas coletivas que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se reencontram para sofrerem juntas as penas de talião, ou ter a ocasião de repararem o mal que fizeram, provando o seu devotamento à coisa pública, socorrendo e assistindo aqueles que outrora maltrataram. O que para muitos é incompreensível, inconciliável com a justiça de Deus; mas só o é por não compreenderem ou não aceitarem que a alma preexiste e já viveu antes, provocando seu destino de agora".
"A solidariedade, que é o verdadeiro laço social, não esta, pois, só para o presente; ela se estende no passado e no futuro, uma vez que as mesmas individualidades se encontraram, se reencontram e se encontrarão para subirem juntas as escalas do progresso, prestando-se concurso mútuo. Eis o que o Espiritismo faz compreender pela eqüitativa lei da reencarnação e a continuidade das relações entre os mesmos seres".
Segundo um provérbio chinês: "Quando os ventos da mudança sopram, algumas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento".
E você, caro leitor, levanta barreiras ou constrói moinhos de ventos?


Valci Silva

Tupã, SP

janeiro 2005

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