segunda-feira, 16 de maio de 2011


TODOS SOMOS MÉDIUNS ?

Mediunidade é ciência
É muito importante entendermos o método espírita de estudar a mediunidade. Para o Espiritismo, mediunidade é ciência e tem de ser tratada a partir do conhecimento das normas estabelecidas na Codificação Espírita. A formação dos médiuns deve desenvolver- se basicamente a partir do estudo das regras contidas nessa Codificação.

Sabemos que o Espiritismo é a terceira revelação. A exemplo das duas primeiras, ela tem uma característica mediúnica muito intensa. A Doutrina Espírita surgiu em meados do século 19, quando a humanidade já estava mais preparada para entender seus fundamentos. Ela não veio completa, porém; desenvolveu- se e aperfeiçoou-se com o trabalho e a colaboração de muitos Espíritos que estavam encarnados na época, principalmente Kardec e seus contemporâneos. Essa tarefa prosseguiu com os homens que sucederam Kardec e continua até hoje.

Qual é o trabalho do homem em relação a tudo que vem do plano espiritual? A observação dos fatos, o estudo, a comparação, a conclusão e a aplicação de todo conhecimento obtido como produto da manifestação dos Espíritos.

O plano físico tem muita responsabilidade no êxito do trabalho mediúnico. Responsabilidade de dirigentes e expositores de Casas Espíritas. Procedimentos irregulares ou contrários à doutrina provocam orientações naturalmente equivocadas, fracassos de médiuns, quedas e, sobretudo, muita dificuldade para a entidade espírita atuar adequadamente no trabalho espiritual e no desenvolvimento mediúnico.

"Nós somos responsáveis pelos nossos próprios atos e pelos atos que levamos terceiros a praticar", dizia Kardec. Ao assumir uma função de liderança no meio espírita, nós assumimos a responsabilidade não só pelo que fazemos, mas também pelo que levamos outras pessoas a fazer.

Na parte mediúnica, o cuidado com os líderes de escolas e salas de treinamento tem que ser redobrado, porque, infelizmente, a mediunidade é objeto de muito abuso no meio espírita brasileiro. Estudos recentes mostram que somente 20% das mensagens recebidas no meio espírita são idôneas; os outros 80% são considerados animismo. E o animismo não pode existir quando o trabalho espiritual enseja a necessidade da manifestação de Espíritos desencarnados, notadamente nos trabalhos de desobsessão.

Sempre existe risco em uma sessão mediúnica mal dirigida. Edgard Armond nos previne que, quando não são dirigidas com um seguro conhecimento doutrinário, essas sessões podem tornar-se terríveis focos de obsessão. Como em qualquer campo da atividade humana, nesses trabalhos há necessidade de orientação e orientadores competentes. Todos somos discípulos que precisamos de mestres. Por isso é que a orientação da maioria dos autores, se não da unanimidade, é no sentido de não haver prática mediúnica fora das Casas Espíritas.

O estudo autodidata é perfeitamente possível, mas não tão eficiente quanto a freqüência a uma escola de mediunidade. O curso mediúnico prepara melhor, principalmente quando o dirigente tem experiência e conhecimento profundo da doutrina. Aí ele pode alcançar grandes resultados e, se o fim a que se propõe é útil, os Espíritos superiores atendem ao seu apelo e os Espíritos inferiores se calam como alunos diante do mestre.
Tipos de mediunidade

Na prática, observamos dois tipos básicos:
Mediunidade estática ou de relação.
Refere-se à relação que todos nós, imigrantes do plano espiritual, continuamos a manter com nossa pátria de origem. Essa mediunidade é natural e se manifesta em estado de vigília, através de intuições, pressentimentos, inspirações etc. Intuição, pressentimento e inspiração não são mediunidade no sentido de tarefa, e sim no sentido da relação natural que existe entre o plano dos encarnados e o plano dos desencarnados. Se queremos dizer que todos os seres encarnados são influenciados pelos Espíritos, podemos afirmar que "todos somos médiuns".
Mediunidade dinâmica ou de tarefa.
Para o estudo mais profundo do intercâmbio entre os dois planos citados, o mais importante é este segundo tipo de mediunidade. Ela é efetiva, consciente e facultativa. Dizem os Espíritos que normalmente ela se desenvolve quando estamos encarnados, como decorrência de uma programação reencarnatória. A mediunidade dinâmica é diferente da mediunidade de relação. Do ponto de vista da mediunidade dinâmica, a resposta definitiva é: "Nem todos são médiuns". A resposta mais definitiva ainda seria: "A maioria de nós não é médium".

A respeito da mediunidade dinâmica, André Luiz assim se expressa: "A mediunidade de tarefa é assim caracterizada como missão, para a qual se prepara o médium antes de reencarnar, através de treinamento educativo e tratamentos magnéticos especializados, para maior desenvolvimento de sensibilidade específica".
Mediunidade e Espiritismo
Vale lembrar que mediunidade não é sinônimo de Espiritismo. É possível ser espírita e não ser médium de tarefa. Kardec diz em O Livro dos Médiuns: "Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem, pelo menos em estado rudimentar. Pode-se, pois, dizer que todos são mais ou menos médiuns". De que tipo de mediunidade Kardec está falando aqui? Da mediunidade de relação ou da mediunidade de tarefa? Da mediunidade de relação, com certeza.

Mais adiante, ele prossegue: "Usualmente, porém, a qualificação de médium se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva". Aqui ele está se referindo à mediunidade de tarefa.

Com o avanço moral da humanidade, a mediunidade dinâmica deixará de existir, permanecendo somente a mediunidade estática, que pertence à natureza e tende a tornar-se cada vez mais acentuada e consciente. A relação com as dimensões espirituais serão mais naturais e freqüentes. Kardec nos diz: "A Doutrina Espírita é contrária a todos os meios artificiais de desenvolvimento psíquico, mantendo o mais rigoroso respeito às leis naturais que presidem a esses processos, como a todos os demais da condição humana".
Com essas palavras, ele está nos prevenindo: vamos tomar cuidado com o desenvolvimento mediúnico, vamos parar de olhar para as pessoas e dizer: "Olha, você é médium, você está sofrendo porque tem mediunidade de tarefa e não está desenvolvendo" . É um crime falar isso a quem quer que seja. Porque ninguém, ao olhar para outra pessoa, por mais experiência que tenha em mediunidade, pode identificar a tarefa mediúnica ou não. Isso não existe no Espiritismo.

A maioria das pessoas que chegam à Casa Espírita é portadora de inúmeros problemas de ordem física e espiritual, e deve receber orientação, assistência espiritual e ensinamentos. Quem for portador de mediunidade de tarefa, normalmente a acabará descobrindo por si mesmo, tão logo esteja equilibrado e conheça com mais profundidade a Doutrina Espírita.

Nós sabemos que a pessoa que estuda a doutrina, está preocupada com sua reforma íntima e tem bons propósitos em relação aos trabalhos que desenvolve no meio espírita recebe proteção extraordinária do mundo espiritual. Isso não significa que o médium não tenha problemas ou não se desequilibre, mas sem dúvida alguma tem sua proteção. Isso vem de quê? Da sintonia com o plano maior superior, justamente por estar ligado a bons propósitos.

Por isso precisamos tomar muito cuidado com o misticismo, com aquela característica mágica, que às vezes trazemos de religiões dogmáticas, de encarar a religião. Léon Denis nos previne que nessas condições estamos sendo vítimas da própria imaginação; na opinião dele, e na nossa também, a credulidade é um dos maiores estorvos para o Espiritismo. Diz ele, ainda: "É preciso não aceitar cegamente, absolutamente, coisa alguma. Tudo o que nós lemos, tudo o que nós vemos, tudo o que nós observamos, precisamos passar pelo crivo da razão. O Espiritismo precisa de homens racionais, porque a Doutrina Espírita é uma doutrina racional, cujo modelo de fé está baseado no desenvolvimento do conhecimento. As experiências feitas superficialmente, sem conhecimento de causa, os fenômenos apresentados em más condições fornecem argumentos aos céticos e prejudicam a causa a que se pretende servir". Esse é o aviso do grande mestre para todos nós, espíritas.

No meio espírita, atualmente, observamos que alguns setores insistem em obter fenômenos de efeitos físicos. A fase desses fenômenos já passou e eles ainda não tomaram conhecimento do fato. Em meados do século 19, após o grande período de estagnação da era feudal e medieval, a humanidade estava entrando em nova fase evolutiva de maior liberdade científica, caracterizada por novo impulso para o progresso moral, vindo da espiritualidade. A ciência, durante dezoito séculos, ficara atrelada à religião, sem condições de desenvolver- se. Naquela época, a humanidade estava precisando de um tipo de fenômeno que atraísse os cientistas para a pesquisa da ciência espiritualista em geral. E qual foi o método que os Espíritos encontraram? Extraordinárias manifestações de efeitos físicos. Extraordinários médiuns encarnados conseguindo levitar o próprio corpo físico à luz do dia, produzindo materializações, movimento de objetos, obras em parafina e muitos outros fenômenos, também chamados de paranormais.

A partir do início do século 20, o Espiritismo começa a tomar considerável impulso no Brasil. Os grandes médiuns de efeitos físicos deixam de aparecer na Europa, nos Estados Unidos e na Índia e começam a se manifestar aqui entre nós. Na década de 20, aparecem as grandes mediunidades de efeitos intelectuais como Chico Xavier e, mais tarde, na mesma linha, Divaldo Pereira Franco e Yvone Pereira, entre outros. E aí ocorreu total modificação na manifestação mediúnica no nosso país. No lugar de efeitos físicos, começamos a ter manifestações intelectuais.

Evidentemente, tudo isso segue uma programação para a evolução da humanidade espiritual ligada ao planeta. Hoje em dia não precisamos mais de fenômenos para acreditar. Basta crer naquilo que os grandes vultos do Espiritismo deixaram escrito. O momento é de estudo e trabalho para a consolidação da Doutrina Espírita na Terra.

Por ser uma doutrina cristã, a base do Espiritismo está em Jesus. A base da prática mediúnica nas Casas Espíritas deve estar também em Jesus. Sempre. Ele deu passes, curou, teve visões, provocou fenômenos de efeitos físicos e nos mostrou todo um processo de manifestações mediúnicas que hoje é estudado pelo Espiritismo.

O espírita deve ler as obras complementares da Codificação, que são úteis. Sem o conhecimento de O Livro dos Médiuns - que pode ser complementado com o estudo de Obras Póstumas e A Gênese -, porém, não é possível o bom desenvolvimento mediúnico. Aliás, devemos ler e estudar tudo. Temos obras interessantíssimas na literatura complementar. Eu recomendaria, por exemplo, o livro Diversidade dos Carismas, de Hermínio C. Miranda.
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Autor: Wlademir Lisso

*Wlademir Lisso é diretor das áreas Federativa e de Assistência Espiritual da Federação Espírita do Estado de São Paulo, onde acumula também o cargo de vice-diretor da Área de Infância e Juventude

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