Revista Cristã de Espiritismo
ano 01 nº 3
Páginas:12 até 18
Sigmund Freud
Mensagem Recebida pela médium
alemã, Eva Herrmann
Em 1973 dirigi uma pergunta a
Sigmund, assumindo que somente ele a poderia responder com exatidão. O assunto
é hoje irrelevante. Mas Freud, que logo se apresentou, parecia ter pouco
interesse em falar comigo e, para minha consternação, foi pouco amistoso.
Freud, no entanto, me deixou
entender, de modo inequívoco, que considerava minha comunicação frívola e
desejava, por isto, ser no futuro deixado em paz. Mas, no dia seguinte, ele
apareceu novamente e se desculpou, informando que havia se informado a meu
respeito sobre minhas comunicações e mudou de opinião. No decorrer de nossa
conversa externou a vontade de transmitir uma confissão. Hesitei, já que
estava, junto com os meus auxiliares, no meio de outro trabalho e, mais ainda,
por considerar duvidoso se tal confissão iria merecer qualquer credibilidade.
Também sabia, por experiência própria, que aflição resultava de ouvir e anotar
tais auto-acusações. Mas Freud insistiu e assim recebi a sua "confissão
geral". Apresento-a aqui e espero que possa ser recebida pelos
interessados de Freud e em assunto psíquicos, com a mente aberta.
Eva Herrmann
O pai da psicanálise deixa claro
em sua mensagem que a psicologia somente terá condições de investigar com
profundidade a mente humana com o apoio do Espiritismo
Eu, Sigmund Freud, irei
transmitir uma confissão a Eva Hermann, que por hora não deve ser tornada
pública para evitar que pessoas que me estão próximas possam ser envolvidas em
um assunto que lhes possa ser desagradável.
Ditei esta confissão geral a Eva
Hermann por esperar obter maior clareza sobre a minha vida e de me livrar das
ligações com o passado. Estas ligações são um grande peso para mim, por me
lembrarem incessantemente dos erros que cometi, tanto na minha vida particular
como na obra de minha vida. Gostaria de clarificar ambos, mas antes queria
falar dos erros pessoais, já que são eles que me prendem aqui nos círculos
característicos de espíritos ainda não purificados.
Isso me leva bem ao meio da área
metafísica, pois, com a frase acima, estabeleço uma série de premissas que, de
um lado são inconciliáveis com as opiniões que defendi antigamente e, de outro,
as ultrapassam em muito. Menciono isto como introdução, já que pode causar
surpresa a muitos dos que estão acostumados a ler os meus livros, ao sentir as
palavras e o sentido da minha confissão. No, entanto, este novo enfoque é a
resultante de estar neste mundo, do qual não tinha conhecimento e que se me
apresenta agora diante dos olhos de modo irrefutável. Toda a resistência
interna para não aceitá-lo não leva a nada. Ele existe, inexorável para aquele
que foi extraditado para cá, e ditoso para aquele que lhe pertence por
tendência ou desenvolvimento: aos de tendências religiosas ou aos simplesmente
bons.
Como eu não tinha tendências
religiosas, nem características que no seu conjunto resultam no homem verdadeiramente
bom, me encontro agora num que, para usar a voz do povo, pertence às trevas ou
"Inferno". Basicamente este Inferno abriga aqueles que, por suas
condições espirituais, são infelizes ou maus. Aos primeiros é, normalmente,
permitido se elevar em sua condição através da necessária vontade própria: para
os maus isto depende de se sentirem bem aqui, ou não. Esta afirmativa pode soar
surpreendente, mas eu tive que me acostumar com a ideia de que a maldade existe
por si, e que muitos espíritos se entregavam parcial ou totalmente a, ela. Se
isto não se coadunar com as suposições hoje aceitas, só se pode lastimar que a
maioria dos homens insistem em ignorar esse fato que, infelizmente, pertence às
realidades básicas da vida, uma infelicidade que lhe é própria, mas nem sempre
se trata de uma infelicidade. Muitas almas têm uma herança, continuam no ponto
em que tiveram que interromper, no passado, o caminho para o aperfeiçoamento de
uma ou outra área de conhecimento.
Gênio! O que é um gênio?
Uma alma que passou por um número
infinitamente grande de encarnações, dirigidas à um único alvo, até que
finalmente possam nascer como um Shakespeare, Mozart ou Einstein, e encontrem
assim, a sua realização.
Talento tem a alma que está a
caminho do gênio, na pressuposição que ele persevere até o fim. Esta
perseverança é, no entanto, nada fácil. O mal que agora somos forçados a
considerar um poder equivalente ao bem, manifesta-se de múltiplas maneiras. Por
exemplo, como negligência, e negligência é o inimigo de qualquer ascensão. Uma
pessoa de talento pode nunca chegar a ser um gênio se a sua alma se tornar
submissa ao mal na sua mascara mais inofensiva a indiferença.
O fato de ter-me apercebido do
mal em todos os disfarces, desde que estou aqui, se deve no reconhecimento de,
que dois centros de poder dividem o domínio do mundo entre si e se combatem por
isto: 0 Bem e o Mal, isto é, o construtivo e o destrutivo, a claridade e a
escuridão, o amor e o ódio.
Apesar de o exposto parecer indescritivelmente
simples, trata-se da verdade e nada mais do que ela. Mas ela deixa de ser
simples se todas as suas intricadas variantes e ramificações forem observadas.
E resulta que a concepção do Universo, na Idade Média (talvez neste único
ponto), se aproxima daquilo que somos obrigados a reconhecer como verdade
irrefutável.
Já como criança me tornei presa
do "mal" na forma aqui descrita. Odiava minha mãe e minhas irmãs, não
como acreditei mais tarde, porque tinha ciúmes de meu pai, mas porque um
posicionamento provocado por uma existência anterior me levou a tal. 0 que aqui
chamo de "posicionamento" corresponde, de maneira aproximada, ao que
os hindus chamam "carma", isto é, a transferência de fatos ligados ao
destino para uma nova vida. Eu tinha uma inteligência clara, com intuição e me
foi dada a condição de poder influenciar os homens de minha época de tal modo,
que posso com razão dizer que ajudei, de maneira substancial, a estabelecer as
bases do panorama espiritual daquela época.
Faltou pouco e eu teria me
tornado o criador de uma psicologia válida, mas faltou a condição decisiva: eu
não tinha a autorização de o fazer. Somente me foi permitido dar ao mundo um
quadro, na sua maior parte correto, do inconsciente, mas não de esclarecer a
verdadeira natureza da alma. 0 meu carma me freiou em forma de restrições
impostas e permitiu que eu apresentasse ao mundo uma "
pseudo-verdade" , já que também o mundo (ou a humanidade da Terra) está
submetido a uma espécie de carma pelo qual ele só pode chegar à compreensão
correta no momento aprazado.
Eu odiava minha mãe e meus
irmãos, apesar de nunca tê-lo admitido durante minha vida. Eles me eram
estranhos, cada um a seu modo. Eu amava Martha, minha mulher, e ainda a amo:
mas ela se encontra num plano muito mais elevado que o meu e só posso chegar a
ela de modo indireto. Como resultado, me esforço ainda mais para sair de minha
condição atual. Desde que tive a experiência magnífica de me comunicar com ela
através de entidades caridosas que transmitiram a comunicação falada, de
estágio em estágio, se intensificou o meu anseio de estar ao seu lado.
Para voltar à minha infância, eu
odiava todas as pessoas ao meu redor. Nunca o mencionei, tanto pela lealdade de
meus sentimentos, como pelo fato de não ter explicação para isto. Eu odiava
minha mãe apesar de uma forte ligação incestuosa do meu lado, mas ambos os
sentimentos corriam em paralelo, sem se perturbarem mutuamente. Mais tarde
expliquei este sentimento pela suposta presença de um complexo de Édipo, mas
hoje vejo este quadro numa luz completamente diversa. Eu odiava minha mãe
porque, numa vida anterior, ela me fez uma grande injustiça e eu carregava esse
fato comigo, nas profundezas do meu ser. Mas, que além disto a desejava, está
ligado ao fato que a teoria do complexo de Édipo está correta quando há uma
certa atração entre os sexos. Não se deve, no entanto, concluir que todo o
resto da tragédia de Sophocles pode ou deve ser aceita como um todo. A teoria
acima, que na minha obra tem um papel preponderante, rejeito hoje como uma
construção falha. O fato de que milhões de pessoas a aceitaram e ainda hoje
aceitam, não muda nada na verdade de que forças destrutivas idealizem este
logro que levou mais de uma geração a fazer papel de tola.
Os meus colegas, aos quais este
diagnóstico parecia a resposta correta a dado problema, tanto quanto eu, foram
vítimas de uma autossugestão que se apodera daquele que não conhece uma solução
melhor.
Eu não odiava só a minha mãe,
odiava todos os meus irmãos. Para isto só tenho uma explicação: o ódio a minha
mãe, que era injustificável, tingia a minha vida emotiva de tal maneira que o
ódio transbordou para os meus irmãos que, em si, não eram nada odiáveis. Eles
reagiam de modo normal, de maneira que me encontrava num mundo cheio de ódio e
antipatia. Toda esta situação correspondia na íntegra ao meu carma, ou seja, a
minha vida preestabelecida que representava o resultado de encarnações
anteriores. Estas encarnações da alma humana se repetem em períodos de duração
variável, as mais avançadas, em intervalos enormemente longos.
Minha última encarnação aconteceu
na guerra dos 30 anos (1618-1648) e estou começando a me lembrar daquela vida
ruim. Eu tinha uma posição elevada, mas que só mal e mal correspondia às minhas
aptidões, e me desincumbia de minha tarefa com profundo desdém aos que me
cercavam e aos quais me sentia muito superior. Este posicionamento estava
ligado com um desprezo, sem igual, pelas necessidades humanas. Voltei assim
para este mundo com o desejo de ajudar a outros, mas, pelo meu carma, só o
consegui em parte, pois, apesar dos meus conhecimentos sobre o mecanismo do
inconsciente formarem uma base para uma psicologia válida, o restante do meu
ensino não é somente errôneo, e eu o confirmo com o coração pesado, mas é, de
certa maneira, um absurdo.
O que hoje, no entanto, sinto
mais profundamente é não ter utilizado, desde que isso me tivesse sido
permitido, meu ,tempo e trabalho para descobrir as verdadeiras bases daquilo
que fazem o homem ser como é, ou seja, procurar os acontecimentos formadores do
destino na reencarnação e no seu passado, que se perde na escuridão, em vez de
procurá-los na sua infância. A este fundo determinativo pertence, além disto, a
influenciação por "forças do além", cuja existência eu ignorava.
Somente desde a minha passagem entendo a enorme importância que estas
entidades, boas ou más, têm para a vida individual como para a coletiva. Este
fato é de importância tão preponderante que quase não encontro as palavras para
apresentá-la na sua completa significância.
Somente desde que eu,
diariamente, sou testemunho daquela cena que mostra, sem exceção, que a
humanidade é ferramenta das entidades que lhe são invisíveis, uma divergência
tão fundamental daquilo que a maioria considera como transcorrer normal dos fatos,
começo a compreender que todos os conceitos atuais sobre o funcionamento do ser
humano não chegam nem perto da realidade. Esta influenciação não é arbitrária,
mas baseada em merecimento, correspondendo, por assim dizer, a um parentesco
facultativo, o que me levou à percepção abaladora de que o Universo é dirigido
por "algo" como uma justiça sobre-humana.
Esta justiça sobre-humana se me
apresenta como algo verdadeiramente divino, se bem que não como uma divindade
personificada. Esta justiça só é, porém, um dos aspectos daquela divindade que
pode ser percebida como uma luz radiante penetrando as profundezas mais
longínquas do Universo e abençoando aqueles que dela podem participar. Isto, no
entanto, não é dado a qualquer um, já que uma grande parcela da humanidade se
encontra em condições espirituais tais que, como se fossem encobertos por uma
crosta dura de ignorância e maldade, a luz divina não os pode penetrar. Quanto
a isto, quero mencionar uma grandeza, ou dimensão que, para lá da altura,
largura e profundidade, indica o grau de densidade, seja de uma alma ou de uma
esfera que lhe corresponda, um grau de densidade que não é tangível, mas é uma
indicação de grau de espiritualização.
Se uma alma se encontra na
condição de cegueira espiritual-religiosa, a opacidade de tal alma impede que
seja transpassada por uma claridade que é a expressão simultânea de amor, de
cognição e justiça absoluta. Neste contexto, entendo hoje sob religiosidade
algo bem diferente de uma observação cega de um ritual, ou de um fanatismo
religioso. A impermeabilidade acima mencionada também é sentida como distância
da fonte de luz e se associa a um mal estar proporcional a esta distância. Em
certos casos isto é negado quando, por exemplo, há um completo afastamento do
divino, mas é compreensível que se fale de um "em cima", próximo da
luz e um "em baixo", que lhe é afastado. Como, além disto, inúmeras
almas pertencem ao mesmo grau de densidade, formando assim um coletivo, é
compreensível que as diversas esferas são baseadas em tradições velhíssimas,
chamadas com as designações simbólicas de Céu e Inferno, e dentro destas, por
diferenciações expressas por números. É natural que relacionado a estas
expressões, não se deve pensar em localizações e, principalmente, não em algo
que de longe tenha semelhança com as imagens tradicionais. Para finalizar
gostaria de mencionar que a tarefa a qual pertencemos não é algo externo a nós,
mas sim, o resultado de uma condição interna, projetada para fora.
A minha alma ainda está no estado
de relativa densidade, por estar carregada com a culpa ainda a ser compensada.
No mundo de cá não podem existir ilusões sobre a condição da própria alma, já
que lhes está contraposto um posicionamento objetivo e inexorável. Este
posicionamento é resultado do fato de que a alma somente pode existir, numa
esfera que lhe é adequada, e esta esfera é totalmente evidente.
A culpa de que falo, só
dificilmente pode ser traduzida em palavras, pois se trata de uma continuidade
que se iniciou na minha infância e, por assim dizer, acompanhou o meu
crescimento. Como mencionei acima, eu odiava a minha mãe e meus irmãos. Meu pai
foi por mim colocado à distância. Não o odiava, apesar disto se ter encaixado
perfeitamente na minha teoria; ele só me era antipático, como a maioria dos
meus parentes. Hoje me ficou claro, mas durante minha vida na Terra este
relacionamento, difícil com os que me cercavam, produziu um profundo
ressentimento, que aumentou no transcorrer do tempo. Considerava- me uma pessoa
original, excêntrica e um gênio, No entanto, não apreciava quando estas
designações eram usadas com relação a mim, pois me deixava constrangido porque
não tinha eu condições de responder a um cumprimento desse tipo de modo urbano.
Considerava- me um gênio não compreendido e, apesar de acreditar nas teorias de
minha autoria, me era um prazer chocar outros com elas. Queria me desforrar do
mundo.
Era tímido e retraído, para não
dizer amargurado. Mesmo estando animado por poder ajudar a pacientes
individuais (e nada me era demais para isto) tinha uma profunda satisfação de
mostrar ao mundo um espelho em que todos podiam perceber um quadro distorcido
de si. Naturalmente isto era feito com o máximo de objetividade e reserva, como
era adequado para um cientista. Pela minha visão atual não existe nenhuma
dúvida que esta atitude era acompanhada de um verdadeiro prazer sádico que eu
guardava cuidadosamente na profundeza da minha alma. Isto era especialmente
fácil, considerando que apresentei uma contribuição substancial com relação ao
mecanismo do inconsciente, o que considero totalmente correto e sempre o
considerei.
Não sei julgar em quanto tempo
poderei, com a ajuda dos outros, reabilitar o homem como uma criação de Deus, cuja
sexualidade, com exceção de casos patológicos, perfaz uma parte importante de
sua vida terrena. A esta criatura de Deus deveria ser permitido, outra vez,
chegar a conhecimentos que hoje, ou estão esquecidos, ou continuam a existir em
uma forma em que a fez ficar inaceitável para qualquer homem razoavelmente
exigente. Mas é de se esperar que em breve cairá alguma luz nesta escuridão
desalmada, na qual pululam. frases que só soam modernas. O homem será
reposicionado como o ser que deve escolher entre o "Céu" e o
"Inferno" (fazendo abstração do gosto desagradável desses termos);
como ser cuja sexualidade lhe traz, às vezes, problemas (ou os trazia) quando
opressão, recalques ou enfeitamento de um instinto eram usuais. O pêndulo se
desloca para a posição oposta e o homem toma-se, finalmente, o ser que tem
muito a aprender e quase muito para desaprender.
Evidentemente a penitência tem a
propriedade de ameaçar sufocar-me pelo que o ódio, que só agora reconheço como
tal, me fez fazer. O que significa penitência, uma palavra com a qual ligamos
açoite, flagelação e sentimento masoquista, dentro da luz dos novos
conhecimentos? Penitência é o método
pelo qual a alma se purifica de uma injustiça cometida, que turva a substância
própria e a impede de tomar parte do divino. A gente é infeliz e gostaria de
mudar isto. Não é possível desfazer o acontecido e assim a gente experimenta,
de um modo ou de outro compensar o erro cometido, por algo de bom que não
elimina a injustiça, mas de certa forma a compensa. Meu trabalho atual é este.
Consiste, como primeiro passo, no reconhecimento e na avaliação da injustiça
cometida. Isto não é fácil para alguém que, como a grande maioria da
humanidade, está acostumado a mentir para si mesmo. Só alguém, como eu, que há
35 anos observo a enorme admiração dos aqui recém-chegados que não encontram o
que tinham imaginado, ou melhor, que aqui se encontram na mesma condição em que
estavam a sua vida toda, pode avaliar isto, portanto, se fez alguma coisa, ou
muito de errado. Para reconhecer isso não há necessidade de um 'Juízo
final". O julgamento é feito já que uma necessidade de características
químicas ou físicas dirige cada lugar ou repartição sem permitir tergiversação.
Eu me encontro, portanto, no
Inferno, mas não longe de uma situação, ou esfera, que pode ser considerado o
"plano mais baixo do Céu". Não deve ser esquecido que aqui os termos
"condição interna" e "forma devida externa" não são
rígidos, mas passam um para o outro. Percebi a grande luz, que, além da já
mencionada justiça, amor e iluminação espiritual, contém uma série de outros
elementos como uma enorme força de atração, que não é só um atrair a si, mas ao
mesmo tempo uma verdadeira declaração de amor. Para atender a ela, não só
iniciei com a máxima intensidade a mim possível, me aproximar daquele mundo de
amor que me atrai. Deste quadro, naturalmente, não pode ser separada a figura
de Martha, que me chama a si como nunca antes.
Assim, tento fazer todo
necessário para esta transformação interna. Reconhecimento e avaliação da injustiça
cometida já aconteceram, é a premissa e o primeiro passo a ser tomado pelo
penitente. A este reconhecimento cheguei aos poucos, assim como qualquer
modificação no Além é lenta e gradual. Sente-se um vago desagrado até que temos
a vontade de analisar o passado sem preconceitos. Como isto aconteceu, tento
achar a maneira de compensar as minhas falhas em forma de serviço que devo
prestar.
Altruísmo é a característica da
alma que acorda. O "estar aí" para os outros, o término daquela vida
centrada no eu. Desprendimento próprio é tanto o caminho como a meta, como já
afirmou Lao-Tsé.
Ainda não comecei com este
"servir". Ainda tenho que me livrar da pressão daquilo que não foi
expresso ou tomado público. Isto agora aconteceu. Eu lhe agradeço Eva. Cancelo
aqui o que disse com relação a não publicação. Eu a deixo agora, para ir a um
claustro, ou seminário, onde espero poder progredir rapidamente.
Adeus"
Sigmund Freud
(1856-1939)
Com razão, os leitores poderão se
questionar sobre a credibilidade, a ser dada ao texto.
Para uma maior clareza ao basear
sua, análise, é imprescindível o estudo da introdução de O Livro dos Espíritos
Reproduzimos um pequeno, trecho pertinente à questão.
“Quanto, aos espíritos que se
enfeitam com nomes respeitáveis, eles se traem pela sua linguagem e suas
máximas; aquele que se dissesse Fénelon, por exemplo, e que ofendesse, não
fosse senão, acidentalmente, o bom senso e a moral, mostraria por isso a
fraude.
Se, ao contrário, os pensamentos
são puros, sem contradição e constantemente à altura do caráter de Fénelon, não
há motivos para duvidar de sua identidade; de outro modo seria preciso supor
que um espírito que não prega se não o bem, pode conscientemente, pregar a
mentira, e isso sem utilidade.”
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