terça-feira, 18 de setembro de 2012

OS OLHOS DO AMOR

 

 


Quando Paulo de Tarso definiu a verdadeira caridade, deixando implícito ser a “reunião de todas as qualidades do coração”, isto é, o “amor”, diferenciou-a completamente da prestação de ser­viços aos outros, da distribuição de esmolas, da assistência social, da ajuda patológica aos dependentes afetivos, de compensações de baixa estima, ou de tudo que se referia a atitudes exteriores, sem qualquer envolvimento do amor verdadeiro.
Reforçou seu conceito acrescentando que: “E quando tivesse distribuído meus bens para alimentar os pobres, e tivesse entregue meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso não me serviria de nada”.
Muitas vezes, “doamos coisas” ou “favorecemos pessoas”, a fim de proporcionar a nós mesmos, temporariamente, uma sensação de bem-estar, de poder íntimo ou de vaidade pessoal, como que compensamos nossos desajustes emocionais e comple­xos de inferioridade.
São sentimentos transitórios e artificiais que persistem entre as criaturas, que, por não se encontrarem satisfeitas consi­go mesmas, trazem profunda desconsideração e desgosto, e super-valorizou-se fazendo “algo para o próximo”, para provar aos ou­tros que são boas, importantes e merecedoras de atenção.
Na realidade, caridade é amor, e amor é a divina presença de Deus em nós. Raio com que Ele modela tudo, o amor é consi­derado a real estrutura da vida e a base de toda a Lei Universal.
É imprescindível esclarecermos que há inúmeras formas de focalizar a caridade, e nós nos reportaremos a ela como o “amor-essência” - energias que emergem de nossa natureza mais profunda: a Onipresença Divina que habita em tudo.
Minerais, vegetais, animais e seres humanos, ao mesmo tempo que vibram também recebem essa “vitalidade amorosa”, num fenômeno de trocas incessantes. Um mineral de rocha permanecera como tal, enquanto a “atração” e a “tendência” de seus átomos e moléculas se mantiverem atraídos e integrados uns aos outros. Tais “atrações” constituem os primeiros estágios dessa energia do amor nos seres primitivos. Semelhante “poder atrativo” prospera e se movimenta em cada fase da vida, de conformidade com o grau evolutivo em que se encontram os elementos e as criaturas em ascensão.
Observemos a Natureza: propensões, gostos e identi­ficações com as quais se particularizam cada ser do Universo, in­clusive a própria criatura humana, são movimentações dessa “força de predileção”, nomeada comumente por “aspiração amorosa”.
Segundo o apóstolo João, “Deus é Amor: aquele que per­manece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele”. Conseqüentemente, nós, herdeiros e filhos Dele, somos Amor, criados por esse plasma divino; portanto, somos oriundos do “Amor Incomensurável”, que sustenta e dirige suas criaturas e criações universais.
Todos nós estamos nos descobrindo no processo dinâmi­co da evolução, que se assemelha a um gradativo despetalar de camadas e mais camadas; inicia-se pelas mais densificadas até atingir “o cerne” - nosso âmago amoroso.
“Deus fez os homens à sua imagem e semelhança” e, dessa forma, somente conheceremos o verdadeiro sentido da ca­ridade como amor criativo, integrador e generoso, quando tivermos uma clara consciência de nós mesmos.
No momento em que passamos a identificar nos outros a mesma essência de amor da qual eles e nós somos feitos, seremos capazes de discernir o que é o sentimento de caridade. Seja jovens, velhos, crianças, sadios ou doentes, seja homens ou mulheres, se passarmos a amá-los incondicionalmente, como nos exemplifi­cou Jesus, Nosso Mestre e Senhor, aí estaremos completamente integrados na caridade.
Caridade não consiste em assumir e comandar sentimen­tos, decisões, bem-estar, problemas, evolução e destino das pes­soas, aquilo, enfim, que elas podem e devem fazer por si mesmas, porque quando tentamos reduzir as dificuldades delas, responsa­bilizando-nos por seus atos, estamos também impedindo seu real crescimento e amadurecimento, somente alcançados através das experiências que precisam enfrentar. Assim, distorcemos a genuína mensagem da caridade, do amor ou da doação verdadeira.
Encontramos ainda na 1a Epístola de João: “Não escrevo um novo mandamento, mas sim aquele que tivemos desde o princí­pio: que amemos uns aos outros”. Quanto mais limitada e particularizada for a maneira de viver o amor, menor será nossa consciência de que todos os seres humanos têm uma capacidade ilimitada de amar ao mesmo tempo muitas pessoas. Quanto mais o amor for compartilhado com os outros, mais nos desenvolveremos e nos plenificaremos na vida.
Olhar os outros com os olhos do amor é a grande proposta da caridade. O verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus, era: “Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas”.
Caridade é amor, e não há amor onde não houver “profundo respeito” aos seres humanos.
Se substituirmos na conceituação de perdão” por Jesus as palavras “benevolência”, “indulgência e “amor-respeito”, compreenderemos realmente esse sentimento incondicional do Mestre por todas as criaturas.
“Amor-respeito para com todos”, “Amor-respeito para com as imperfeições alheias”, “Amor-respeito aos ofensores”: aqui estão as regras básicas da conduta do Cristo.
Não olvidemos, porém, que respeitar os outros não quer dizer “ser conivente” ou “manter cumplicidade”.
Concluímos ajustando o texto de Paulo ao nosso melhor entendimento: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e também a dos anjos; ainda que eu tivesse o dom da profecia e penetrasse todos os mistérios; ainda que eu dominasse a ciência e tivesse uma fé tão grande que removesse montanhas, tudo isso não me serviria de nada se não tivesse amor-respeito aos seres humanos”.
Espírito de Hammed, in
Renovando Atitudes

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