terça-feira, 29 de março de 2011


Sobre a Compaixão Disse um grande sábio:

Compaixão é a prática do amor, é um comportamento de amor. Compaixão é ampliação do raio de ação do que chamamos eu.

Enquanto não compreendermos o que se passa ao nosso redor, não estaremos habilitados a sentir compaixão, estaremos apenas projetando nossos defeitos. Só quando percebemos a verdade dos fatos é que podemos ter compaixão por aqueles que não a percebem. Na verdadeira compaixão não existe projeção ou identificação.

Enquanto estivermos identificados, o perdão será impossível. Estaremos sempre contando as mesmas histórias, as mesmas ladainhas. Estaremos sendo hipócritas ao negarmos, da boca para fora, um ressentimento, sabendo que ele ainda está dentro de nós. Precisamos nos esforçar para vermos as coisas sob outros ângulos, outros pontos de vista.

O que costuma acontecer, na verdade, é que nos apegamos a dor, ao sofrimento. E isto impossibilita o perdão. A dor, neste caso, é reflexo de ressentimento, raiva, mágoa, que tende a nos colocar no papel de vítima, de um herói não reconhecido.

Devemos, sim, ter compaixão pelo sofrimento alheio. Mas, algumas vezes, isto requer a não identificação, senão iremos sofrer junto com os outros.

Diz H. P. Blavatsky, em “A Voz do Silêncio”:

A compaixão não é um atributo. É a Lei das leis – a harmonia eterna, o próprio Ser de Alaya, uma essência universal sem praias, a luz da justiça eterna, o acordo de tudo, a lei do eterno amor.

Quanto mais com ela te unificares, fundindo o teu Ser no seu Ser, tanto mais a tua Alma se unirá Áquilo que É, tanto mais te tornarás a Compaixão Absoluta.

E, ainda, um Grande Mestre:

Agora que os teus olhos foram abertos, algumas das tuas antigas crenças e cerimônias podem parecer-te absurdas; talvez, na realidade, o sejam. Apesar, porém, de não poderes mais tomar parte nelas, respeita-as por amor às boas almas para quem elas são ainda importantes. Têm o seu lugar e a sua utilidade; assemelham-se às duplas linhas que, quando criança, te guiavam para escrever em linha reta e na mesma altura, até que aprendeste a escrever muito melhor e mais livremente sem elas. Houve tempo em que delas necessitaste; esse tempo, porém, já passou.
...
Um grande Instrutor escreveu certa vez: “Quando eu era criança, falava como criança, entendia como criança; porém, quando me tornei homem, abandonei os modos infantis”. No entanto, aquele que esqueceu a sua infância e perdeu a simpatia pelas crianças não é o homem que as possa instruir e ajudar. Assim, olha a todos bondosamente, gentilmente, tolerantemente; porém, a todos da mesma forma, quer sejam budistas, jainos, judeus, cristãos ou maometanos.


Em termos de compreensão da verdade, todos somos crianças. Aquele que percebe a verdade, aquele que se torna homem, deve ter compaixão para com as crianças, uma vez que um dia já foi criança também. Se um homem não consegue expressar compaixão, então sua mente ainda se encontra nublada por seus egos.

No dia em que percebermos nossa vasta ignorância, nosso desconhecimento de tudo, nossa nulidade, no dia em que percebermos o quanto nos auto-enganamos, poderemos alcançar o verdadeiro sentimento de compaixão. Enquanto isto não acontece, estaremos presos, cegos, pelo orgulho, pela auto-imagem, pela vaidade, pela auto-importância, impossibilitados de uma real compaixão, impossibilitados de amar.

Mahatma Gandhi, um dia, afirmou:

Os únicos demônios que existem no mundo são os que habitam nossos corações, e é lá que a Guerra Santa deve ser travada.

Ao dizer isso, quase no fim de sua existência, ele foi questionado sobre como estava se saindo em sua batalha, ao que Gandhi sorriu e respondeu:

Oh! Mal, e por isso tenho compaixão dos outros canalhas deste mundo.

Nosso egocentrismo nos leva a crer que precisamos sempre sentir compaixão pelos outros, e nos faz esquecer que os outros também devem ter compaixão para conosco. Talvez, saindo um pouco de dentro de nós mesmos e sendo um pouco menos egoístas, possamos ter a percepção de que também precisamos da compaixão dos outros, pois não somos tão santos e invulneráveis quanto acreditamos ser. Esta percepção nos levará a relaxar e, por conseqüência, a ter muito mais compaixão para com os outros, pois entenderemos que eles também devem tê-la conosco.

Um ponto importante, para o qual devemos sempre estar atentos, é o hábito de praticarmos a compaixão como um sentimento proveniente de orgulho, vaidade, desprezo, ou seja, como uma tentativa de nos colocarmos como melhores, como superiores.

Talvez a busca pela compreensão e pela verdadeira compaixão para com o próximo seja uma chave para alcançarmos a verdade. Pode-se dizer que essa busca já é, em si, um ato de compaixão. Como a compaixão nos leva a tirar o foco de nós mesmos, vamos percebendo gradualmente o mundo externo.

Conforme vamos nos conhecendo, conforme vamos compreendendo nossos medos e temores, nossos desejos, sofrimentos, apegos, esperanças, expectativas, condicionamentos, vamos nos libertando desses sentimentos, vamos conhecendo e aceitando melhor as pessoas à nossa volta, vamos compreendendo por que elas sofrem, por que passam por determinadas situações. E então sentimos verdadeiramente compaixão pelo próximo.

Precisamos compreender que, se agimos mal um, dia foi por ignorância, por forças inconscientes que desconhecíamos. Se tivéssemos capacidade de reconhecer essas forças, de detectá-las, não teríamos agido mal. Essa compreensão é fundamental para nos levar à compaixão, pois é em decorrência dela que podemos perceber que a maioria das pessoas muitas vezes age mal por não compreender a vida, por ignorância.

Também precisamos perceber dentro de nós mesmos a diferença entre pena ou piedade e compaixão. São sentimentos distintos.

Compaixão está para "mais consolar do que ser consolado, compreender do que ser compreendido". É sair mais de dentro de nós mesmos e olhar um pouco para os outros, quebrando assim um pouco do nosso amor próprio, da nossa auto-importância.

Aquele que critica e reclama com freqüência certamente não se aceita. Cobra-se demais e projeta sua auto-cobrança, sua não aceitação de si mesmo, sua auto-crítica. Provavelmente, está carregando um pesado fardo de orgulho, auto-imagem, auto-importância, de apego a si mesmo e às suas idéias. Tudo isso é motivo de tristeza, infelicidade, dor e sofrimento. Assim, temos que desenvolver em nós a compaixão e a aceitação daqueles que criticam, ofendem, reclamam.

Um grande sábio disse:

Todas as pessoas querem as mesmas coisas que nós, como por exemplo a felicidade, todos queremos ser felizes. Alguns passam dos limites e acabam passando por cima dos outros, buscam a felicidade a qualquer preço, desrespeitando o próximo. Muitos fazem uma confusão entre felicidade e prazer, mas felicidade não é prazer.

Não podemos impedir os outros de serem o que são, o máximo que podemos é perceber o estado de animo dos nossos semelhantes. Se tivermos suficiente compreensão, sensibilidade, compaixão, até podemos renunciar, ceder a vez a essas pessoas, por que para nós será mais importante nosso estado de espírito, serenidade, paz, tranqüilidade, do que a fascinação momentânea por algo.

Enquanto não tivermos a consciência desperta, devemos aceitar os defeitos que vemos nos outros, pois, desta forma, estaremos aceitando os nossos próprios defeitos, uma vez que o que vemos nos outros são apenas projeções. Conforme praticamos a aceitação, a compaixão, a paciência, a tolerância, o respeito para com os outros, as barreiras vão se rompendo. E então vamos nos percebendo mais e melhor, vamos percebendo a projeção existente.

Assim como a verdadeira compaixão, o verdadeiro amor só aparece na ausência da identificação, na ausência do ego. São sentimentos Divinos, enlevados, que não podem se manifestar na presença e muito menos através do ego.

Quando estamos conscientes, fazemos sempre o correto, não existe divisão. Não existe julgamento dos outros, a compaixão brota de forma plena e espontânea, com toda a sua grandeza. Assim acontece porque, conscientes, sabemos que o outro foi levado à ação errada por inconsciência, ignorância.

Enquanto existir o medo dentro de nós, enquanto existir a preocupação com o “eu mesmo”, não poderemos exercer a compaixão de forma verdadeira.

É nosso egocentrismo, nossa preocupação com nós mesmos, nossa auto-importância, nosso amor próprio, que nos impede de olhar para os motivos que levam as pessoas a fazer o que fazem, de ver que os outros também sofrem, de entender que agem de forma ignorante, inconsciente. É nosso egocentrismo, nossa preocupação com nós mesmos, nossa auto-importância, nosso amor próprio, que nos impede de termos uma verdadeira compaixão.

Todos dizem que o amor tudo pode e que a compaixão tem o poder de destruir a negatividade dos outros, ou seja, que tem o poder de nos proteger. Mas usar a compaixão como forma de buscar algum tipo de proteção é um auto-engano, é egoísmo. Se formos praticar a compaixão, pratiquemo-la por amor, por devoção a Divindade, sem esperar algo em troca.

Fabio Ferreira Balota
FUNDASAW - São Paulo

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